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Campo de Morangos não é mais do mesmo - Uma perspectiva Analítica

Atualizado: 21 de ago. de 2023

Essa música fala sobre perda de inocência e saúde mental da mulher...

Num primeiro momento e de forma superficial realmente só aparenta mais do mesmo, uma mulher se "depreciando" e se hipersexualizando, levantando bandeiras radicais, pró isso, pró aqui, contra isso, a favor daquilo e tudo que já sabemos quando uma mulher não segue o padrão "socialmente aceitável" (isso sim, não é nada de novo). Do nome da música, aos detalhes da letra, passando pelo ritmo do som, o contexto do clipe, com chamada para a cena final, podemos perceber que não se trata só de pr@zer, s@ngue e bund@! Esse clipe com essa letra é uma crítica a perda de inocência (olha a foto abaixo, ela transmite esse ar, está no sol, de roupa clara, com semblante tranquilo), da necessidade de quando nova performar nesse lugar de "mulher safada e madura" para ser deseja/aprovada, o que coloca muitas mulheres em risco no começo da vida sexual (trecho da música: "Toda boa, boa, boa menina"). Outro ponto que me chama atenção, a citação de Beatles (banda inglesa famosa nos anos 80) que é referência de duas ou três gerações antes dela ( ~25 anos~), ela faz menção a jogo de vídeo game, vizinha, pirulito, sxo e a cena final do clipe dela acordando numa cama sozinha e cheia de "s@angue", podendo sugestionar @buso sxual, violênci@, @borto. Antes de qualquer julgamento, essa é uma das músicas do álbum, que assim como outras obras da artista, contam uma história, que ela mesmo já disse se tratar de uma criação baseada na própria jornada pessoal e que a próxima canção será uma "resposta" para essa primeira, só dar um google. Como já coloquei, é claro que "já que é pra estourar", ela escandalizou, afinal escândalos sempre são para chamar a atenção para algo que nem sempre tem a devida atenção e consideração, principalmente se tratando da "voz feminina" diante a situações absurdas endossadas pelo patriarcado e machismo estrutural, só fazendo algo CHOCANTE e midiático para "ser vista" ou melhor, OUVIDA. (Que mulher aí, já se sentiu sem voz e sem ser ouvida?) Ou seja, estamos falando sobre SANIDADE MENTAL.


Para quem acredita que meu perfil/trabalho não seja pra isso, quero contextualizar e ampliar esse ponto trazendo algumas questões. Ao falar sobre autocuidado, autoconhecimento e espiritualidade só pelo viés da luz e do belo, não é sustentável e nem me interessa, por vários motivos, entre eles porque é superficial e excludente pois, temos sombras, desafios, dores, limitações e principalmente por estarmos inseridas em uma sociedade e cultura diversas que geram influência direta e indireta sobre nós, querendo ou não. Quem faz acompanhamento terapêutico comigo, sabe que eu trago com frequência o recorte social e cultural para ampliação e contextualização das múltiplas realidades que existem. No meu ponto de vista, baseado em estudos e vivências, a melhor forma de entendermos a complexidade do ser, é compreendendo que somos constituídos por aquilo que recebemos da família, das relações, do trabalho, da escola e é discutindo as próprias questões para além do egocentrismo, que conseguimos nos compreender e compreender ao todo (ou boa parte dele). Afinal, não é porque não vivemos ou entendemos algo que não exista ou não faça sentido.

Meu público 95% é de mulheres, eu trabalho com saúde mental de mulheres que sofrem diariamente uma série de micro abusos, situações péssimas naturalizadas e neutralizadas porque fomos ensinadas que nosso corpo, performance e serventia valem mais que nossa inteligência, capacidade e autonomia. Trabalho constantemente para a compreensão de que nós mulheres somos nossos corpos, nossa beleza, nossa sensualidade, nossa capacidade e competência em cuidar e também somos inteligentes, capazes, espertas, bem-sucedidas, poderosas e seguras de nós. Trouxe tudo isso pois, não dá pra falar sobre autoconhecimento sem entender o "espírito do tempo" em que estamos vivendo e o estrago que está a saúde mental coletiva. Não é julgando ou fingindo não ver, que iremos avançar para a integração e harmonia, seja pessoalmente ou coletivamente falando. Nossa sociedade está adoecendo porque desconsidera as sombra, as limitações, as falhas, a natureza, os pecados... que lugar é esse que todos precisam ser perfeitos, puros, belos e santificados? Isso é mesmo possível?

Voltando ao assunto da música e vídeo de moça Luisa Sonza, eu abri uma enquete nos meus stories, para ampliar a polêmica (ver destaques Morangos) 85% quis que eu continuasse com a análise e apenas 15% disse que não e tudo bem. Mas como é votação e a maioria vence, cá estou eu! Lembrando que o intuito não é provar meu ponto de vista, mas sim ampliar os horizontes para além do que já está nítido sobre a polêmica...rs

É óbvio que Luisa Sonza fez para "lacração" esse é o trabalho dela!! Mídia, fama, exposição, é assim q ela faz dinheiro com a arte dela. Ousada, audaciosa, afrontosa, exagerada e (insira aqui o que você quiser)? Sim, porém, proporcional às críticas e aos ganhos. 😉


Isso posto, partimos para análise da música e do clipe POLÊMICOS! rsrs


Em tempos óbvios, mas nem tanto, vale dizer que não tem nada de sat@anico, nem é só por marketing... Antes de julgar, busque aprofundar e ampliar! Se bem que se consideramos que nas profundezas do próprio interior existem muitos monstros, podemos relativizar, pensando que nesse tal clipe e no que ele vem despertando no coletivo, tem sim algo de "diabólico"....rs. E é esse o ponto, como escancara a foto acima, um cenário infernal de guerra e sacrifícios, é assim que alguém que passa por questões mentais e emocionais profundas (stress, luto, ansiedade, angústia, medo, ~auto~agressões, abusos dos externos aos íntimos) costumam relatar quando perguntada "como está?", em retorno recebemos "no fundo do poço". Quais sacrifícios e guerras essa moça, assim como nós, já passou? Outro recorte que podemos trazer, é a aproximação das oscilações hormonais que uma pessoa que menstrua passa (tranquilidade, agitação, fogo no r@bo, depre, carência, compulsão, raiva etc), aos olhos de uma sociedade que pouco olha para isso pode parecer um exagero, mas somente quem vive e sabe dos desafios e as consequências disso é que vai entender os aspectos que evidenciam isso na obra (música + clipe).

É um clipe forte e apelativo? Com certeza, mas traz muita crítica, semiótica e mensagens subliminares, começando pelo título da música... Strawberry fields forever = para sempre CAMPOS DE MORANGOS, é uma música dos Beatles (banda inglesa famosa nos anos 80), que fala sobre fuga da realidade, sobre o inconsciente, sobre sonhos (só pesquisar no, vocês sabem onde)... Logo podemos fazer o paralelo que a cantora está fazendo menção a algo das vivências dela, sobre processo de ansiedade, depressão, angustias e tentações, "mídia, fama, novinha talentosa, loirinha bonitinha, boazinha e angelical"... Desde cedo somos ensinadas a nos comportar de "X" forma para que estejamos "protegidas" e vistas como agradáveis pois, alguém pode nos fazer "mal" ou não nos entender, todo cuidado é pouco com certeza, mas o quanto na verdade deveríamos estar sendo ensinadas a identificar quando algo não vai bem, do tipo: "olha, se alguém mexer com você e você não gostar, coloque limites, faça um escândalo, grite, corra, se defenda, procure ajuda, FALE SOBRE ISSO!". Nosso útero, nosso poder, nossa voz!

E eu fico com a pergunta, qual o problema de uma mulher se apropriar do próprio corpo e dos rótulos que a sociedade constantemente coloca na mulher, mesmo que ela não queira e fazer disso algo rentável para ELA? Qual o problema dela usar a voz dela para falar sobre o que ela deseja falar? Não gostou, não consuma! Não é de hoje que a mulher que fala sobre si, age por si, é dona de si, que próspera e se auto sustenta é colocada como pecaminosa, diabólica, feiticeira, trapaceira, obscena, vulgar e histérica (temos bons exemplos, Madona, Britney Spears, Anita e por ai vai)... Ela "SÓ" vestiu a carapuça e tá usando disso para falar sobre algo sério, a saúde mental da mulher e claramente tá fazendo disso o próprio suce$$o e a própria cura, criando ainda mais liberdade para fazer e ser quem ela quiser e puder ser! (tirando aqui o recorte de que essa música não é apropriada para crianças, mas isso ai é outras história, que foge da proposta do texto e lembrando que o público dela é preferencialmente de ADULTOS). Mulher livre é mulher com liberdade financeira e muito amor próprio (tanto que "tá nem ai" pro que os outros vão falar).

Enfim, continuando, o clipe e a música podem sim estar apenas falando de prazer, sexo, luxúria e não ser nada demais, mas também pode estar falando sobre abuso, dor, manipulação, distorção da realidade, fuga, compulsão sexual, depressão, ansiedade, céu e inferno, oscilações de humor, de falar, falar e não ser OUVIDA e muito mais coisas, percebem? Luisa Sonza, teve uma sacada pois, além de atingir o objetivo "publicitário" de gerar polêmica para repercutir, chamar atenção e lucrar, está aproveitando disso para trazer luz sobre diversas discussões que continuam nas sombras sociais... Além de deixar evidente o objetivo da arte, que é, não somente mostrar o senso estético, belo e aceitável, mas provocar os afetos e aquilo que afeta, gera efeito, principalmente se tratando de algo da "área de humanas" (audiovisual/arte) conversando diretamente com a alma e com os complexos. A arte traz à tona a subjetividade das experiências de cada indivíduo que emite QUALQUER tipo de opinião sobre uma simples e "desnecessária" música. Daria e adoraria analisar cada parte da letra e do vídeo de forma bastante minuciosa pois, existem muitas camadas subjetivas e amplas, possíveis de serem exploradas. Espero que de alguma forma, você que parou para ler, compreenda o exercício que eu propus com essa reflexão e se "bateu" leva para casa que é teu, ou melhor leva pra terapia. rsrs (contém sarcasmo e ironia, com um fundinho de verdade). Vale reforçar que é só um ponto de vista, na perspectiva analítica, não é uma única verdade absoluta, até porque somente a artista/cantora, pode responder sobre a própria criação e as motivações por traz de sua obra. E ai, você já viu? O que achou? Deixa nos comentários e vamos ampliar a percepção. . Ligia Cruz Guiteirio Terapeuta Holística e Analista

 
 
 

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